Saúde da Mulher Grávida

Saúde da Mulher Grávida

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A História da Obstetrícia

A palavra obstetrícia é derivada do latim obstetrix, sendo que obstare é estar ao lado da parturiente ou ainda ajudá-la a enfrentar o processo da gravidez e do parto. Este significado refere-se ao período em que as parteiras prestavam a assistência ao parto e hoje faz menção à ciência ou parte da medicina que estuda e presta assistência à mulher na gestação, parto e puerpério.

Para conhecermos a origem dessa especialidade, se faz necessária a compreensão da Medicina em si e algumas mudanças que ocorreram através dos séculos, influenciadas por crenças, estilo de vida e acontecimentos históricos.

No século XVIII, o corpo humano era visto como um "buraco negro" de onde fluíam "humores" de maneira estonteante. Durante esse século, muito pouco se sabia sobre o funcionamento do corpo humano. Os seus diversos processos, como digestão, fertilidade, evacuação e parto, eram vistos como mudanças semelhantes às observadas na natureza, como as estações do ano e as mudanças climáticas. As pacientes eram incentivadas a atiçar o "fogo vital" ou a chama da vida, por meios de vômitos, sangrias, suadores e evacuações regulares, que ajudariam a manter "o bom fluxo de energia".

Foi Hipócrates, o "pai da Medicina", quem instituiu que a doença é do corpo e não um castigo dos deuses.

Ainda que a doença fosse considerada como orgânica, a medicina greco-romana era naturalista e holística. Fazia referência à importância do equilíbrio, onde o corpo humano não deveria se tornar nem muito quente nem muito frio, ou ainda, nem úmido, nem seco.

A figura do médico, antes vista como uma espécie de mago e começava a se tornar uma figura científica. Entretanto, ainda era vista com desconfiança diante das patologias da saúde e mantida distante do momento do parto.

Entre 1346 e 1350, a Pesta Negra matou cerca de 25% da população da Europa e reduziu de 30 para 20 anos a expectativa da população. Nesse período, que se seguiu a peste negra, "gerar" passou a ser quase uma necessidade para a preservação da espécie. A maternidade era muito valorizada, estimulada, sem com isso significar que as mulheres a desejassem. O vínculo estabelecido entre mãe e filho era mínimo, por esse motivo, muitos dos bebês gerados eram entregues para as "amas-de-leite". As famílias mais ricas escolhiam as amas com muita cautela e elas permaneciam na residência da mãe, já as mais pobres, o bebê era enviado à casa da "ama-de-leite", que não conseguiam dar conta de todos os bebês que lhe eram entregues, por esse motivo, o índice de mortalidade infantil era bastante elevado. 

As mulheres eram vistas como apenas procriadoras, distantes de um envolvimento maior com o parto ou a maternidade. 

Uma grávida era orientada a repousar e evitar relação sexual, pois com elas "a natureza estava satisfeita".

Até meados da década de 1800, o indíce de mortalidade materna era altíssimo, não só pelas intercorrências obstétricas, como eclâmpsia e hemorragia, mas também pelas infecções de difícil controle. Diante dessa realidade, o parto domiciliar apresentava, então, as suas vantagens. Geralmente era realizado por uma ou mais mulheres, menopausadas, cercada por crenças, talismãs e poções milagrosas para auxiliar o processo.

Em 1806, data em que a obstetrícia passou a se tornar uma especialidade médica, uma série de inovações, como o fórceps e o espéculo foram criados, mudando o desfecho de muitos nascimentos. O fórceps era considerado um instrumento secreto, somente podia ser utilizado quando mais ninguém estivesse presente, somente a paciente e a parteira, esta deveria permanecer de olhos vendados.

Foi o obstetra francês François Mauriceau (1637-1709), profissional altamente conceituado entre a realeza da época, quem primeiro pôs em prática a idéia de colocar deitada a mulher em trabalho de parto. Fez isso, diga-se em seu favor, para conforto delas, que tinham quilos demais para se sentar confortavelmente nas cadeiras de parto. Querendo ajudar, cometeu aquele que seria considerado por muitos como o maior erro da história da Obstetrícia. 

Atualmente, curioso notar que algumas das cadeiras disponíveis para o parto lembram muito os modelos antigos, que faziam parte do enxoval do bebê. Nelas, a mulher era imobilizada e acorrentada na hora do parto.

A partir de 1900 começou a crescer a idéia de que parir deveria ser uma situação hospitalar.
O relato do primeiro serviço onde um programa de pré-natal foi implantado é da Austrália, em 1912. Nesse mesmo período a fisioterapeuta Minnie Randall desenvolveu programas cinesioterapêuticos voltados à mulher no pós-parto visando sua recuperação física. Posteriormente, Randall promoveu programas voltados a gestantes cujos objetivos eram o preparo para o parto.

Em 1940 a fisioterapeuta Helen Heardman e outros fisioterapeutas ingleses que atuavam na área criavam a Associação Obstétrica de Fisioterapeutas Licenciados.

Entre as décadas de 1940 e 1960, houve uma mudança radical no papel da mulher na sociedade. Os avanços científicos haviam levado a um distanciamento da mulher e de seus diferentes processos naturais como a gravidez e o parto, onde o cenário que se encontrava era o movimento Hippie e a invenção da pílula, onde a mulher pudesse reassumir seu papel ativo diante do próprio corpo.

Os programas de preparação para o parto do obstetra inglês Dick Read na década de 1950, visando a um "parto sem dor" e uma gravidez "mais ativa", traziam uma série de exercícios físicos terapêuticos, atraindo principalmente os fisioterapeutas para sua orientação. Ivan Petrovich Pavlov na Rússia, fundamentou a teoria de Pavlov. Essa teoria sugeria que as dores do parto sofriam influencia de condicionamentos transmitidos de mãe para filho. Dessa forma, Patonov, cria uma proposta de preparação para o parto, na qual relaxamento, exercícios físicos e respirações teriam papel fundamental - Método Psicoprofilático. Nesse mesmo período, Arnold Kegel, em 1948 na Califórnia, iniciou seus estudos sobre o papel da musculatura perineal.

Em 1960 iniciou-se a atuação de fisioterapeutas nessa área, em atividades educativas de preparo para o parto.

Nas décadas de 1970 e 1980 os estudos randomizados passaram a nortear o trabalho dos fisioterapeutas. A contribuição de Raul Artal no processo de consolidação da fisioterapia obstétrica deve ser sempre lembrada e registrada.

Em 1979 a Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, em seu departamento de Ginecologia e Obstetrícia incentivou a organização de equipe multidisciplinar e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher - CAISM foi criado e em 1986 os Serviços de Fisioterapia foram agregados.

Grandes nomes não podem deixar de serem citados por tudo que lutaram e promoveram no trabalho dos fisioterapeutas no Brasil são as Doutoras Mirca Christina da Silva Batista, Ângela Marx e Elza Baracho. Apesar da existência de livros traduzidos de fisioterapia em ginecologia e obstetrícia, somente em 1996 que foi publicado o primeiro livro nacional de autoria da fisioterapeuta mineira Elza Baracho. Muito se deve pelo entusiasmo e dinamismo dessas mulheres.

Enfim, hoje a Fisioterapia Aplicada à área da Saúde da Mulher, colhe os frutos das sementes plantadas no passado e alia tecnologia e conhecimento científico, sem perder a sensibilidade.

A partir de 2000 foram criados os primeiros cursos de especialização em Fisioterapia em Saúde da Mulher, substituindo-se as palavras ginecologia e obstetrícia, com o objetivo de deixar explícita a incorporação dos importantes preceitos filosóficos, destacando o conceito de integralidade, contidos no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM.

Em 2005 foi criada a Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher - ABRAFISM, que vem reunir os profissionais que hoje atuam na área no Brasil.

Em 2006 a ABRAFISM promoveu o I Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Saúde da Mulher em conjunto com o I Intercobraf promovido pela Associação dos Fisioterapeutas do Brasil - AFB.

A ABRAFISM, EM 2007, deu um importante passo histórico, tornando-se a primeira associação da América Latina, membro da Organização Internacional de Fisioterapia em Saúde da Mulher - IOPTWH, durante o Congresso Mundial de Fisioterapia realizado em Vancouver no Canadá.

Em outubro de 2009 foi aprovada por unanimidade a Resolução nº 372 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - COFFITO, que reconhece a Saúde da Mulher como especialidade do fisioterapeuta.

A Organização da Saúde - OMS - recomenda como prioritárias as ações que busquem oferecer uma assistência de qualidade e com base em evidências científicas no pré-natal, parto e puerpério. Desse forma fica evidente a necessidade de programas governamentais de saúde voltados a mulher.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Marques, AA, et al. Tratado de fisioterapia em saúde da mulher. São Paulo: Ed. Roca, 2011.


2. Ferreira, CHJ. Fisioterapia na saúde da mulher: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

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